Peça de teatro infantil com direção de Isaac Bernat que conta uma história real de Franz Kafka, um ano antes de sua morte. O autor viveu uma experiência singular ao se deparar com uma criança no Parque de Steglitz, em Berlim de 1923. A criança havia perdido a boneca e o autor, para consolá-la cria uma história de que sua boneca não se perdera e sim fora viajar. Para que o fato se tornasse ainda mais convincente, Kafka - que se tornaria um dos mais influentes autores do século 20 - assume o papel de "carteiro de bonecas" e passa a lhe entregar diariamente, durante três semanas, as cartas inventadas.
Essa experiência bastante inusitada e pouco conhecida do público foi contada por Dora Dymant, companheira do escritor na época. Segundo ela Kafka entrou no mesmo estado de tensão nervosa que o tomava cada vez que se sentava à escrivaninha, fosse para escrever uma carta ou um postal". Ele escreveu a primeira carta com absoluta seriedade e entrega, e depois todas as demais. Durante anos, Klaus Wagenbach, um estudioso de Kafka, procurou a menina pelos arredores do parque, interrogou vizinhos, colocou anúncios nos jornais, mas não obteve respostas. Essas cartas despertam fascínio e é certamente um dos documentos perdidos mais importantes da literatura do século 20. Talvez por isso a obra literária “Kafka e a boneca viajante” de Jordi Sierra i Fabra vem despertando interesse em diversas partes do mundo para livres adaptações: México, Peru e Espanha fizeram versões teatrais; França realizou uma versão de ballet clássico e Itália negocia os direitos para o cinema. No Brasil, pela primeira vez, a obra ganha adaptação teatral a partir do olhar de Julia Bernat, tem direção musical de Luís Pedro e direção de Isaac Bernat.
Em cena os atores João Lucas Romero e Laura Becker multiplicam diversos papeis num laboratório onde as cenas são coletivamente construídas para dar vida à história extraordinária da boneca viajante. Também contam - a partir de um deslocamento da história dentro da história - a história intimista e inusitada entre Kafka e a menina Elsi. À medida que as correspondências são entregues, a boneca envia seu amor à menina tornando a distância menor e a solidão, suportável. Num plano ainda mais profundo, temos um encontro generoso, puro e intuito; um embate sobre coisas importantes e vitais que mantém vivo o sonho no homem. A história dentro da história habita a infância guardada em cada um de nós.